A Alma Lusa

O presidente das Rotas de Vinho de Portugal, Jorge Sampaio,  tem acompanhado o trabalho das enólogas e defende que temos certamente grandes mulheres por detrás de grandes vinhos. Jorge Sampaio dedica um texto a todas as mulheres afirmando que somos “Alma Lusa”.

Não sendo eu um técnico, ou dominador das artes químicas de transformar o fruto das videiras em vinho, o que me traz, por vezes, uma envergonhada angústia de ficar perdido em explicações mais técnicas, sinto, constantemente, a necessidade de descobrir, em cada vinho, a sua essência, a sua génese, identificando a sua alma.

Consciente que pode parecer algo filosófico, ou metafísico, a tentativa de identificar a alma de um vinho, e admitindo, até, que a simples afirmação, perante químicos e cientistas, que todas as transformações moleculares se podem reduzir a uma simples áurea que um copo de vinho emana, pode reduzir a devaneios ridículos, ou ao início da loucura, este meu pensamento.

Mas, convicto das minhas fraquezas, e empurrado pela vontade de compreender, afirmo, com a convicção mais conformada, que um vinho tem alma, reduzindo-me, desta forma, à mais humilde e elementar condição de bom bebedor e aprendiz de conhecedores.

A alma está no corpo e na cor de um vinho. Marcas que a natureza reflecte no copo, a olho nu, no balançar e na inquietude do líquido.

A alma está no nariz, nos aromas do vinho. Naqueles que sentimos e nos outros que nos dizem para sentir e que, mais ou menos convencidos, acreditamos, com toda a certeza, que estão lá.

A alma está no sabor, no palato de quem prova, nas sensações que provoca em cada um dos nossos sensores, em cada um dos nossos cantos da boca. Como se a boca tivesse cantos, argumentarão os mais argutos pensadores.

Sintamos, pois a Alma de um vinho luso. Tentemos, em cada copo, compreender o pedaço de Portugalidade que o mesmo encerra, ou como os sapientes vínicos prosaicamente apelidam, o Terroir de cada Região.

É esta riqueza de pedaços, todos tão diferentes, mas todos tão próximos e ligados, que faz, de Portugal, um dos países mais ricos no que ao vinho concerne. Eu diria até, o País mais rico do Mundo dos Vinhos.

Percorremos o país todo, tão rápido, dos Verdes ao Algarve, da Beira Interior à Bairrada, neste Portugal que é tanto d’Ouro e que nunca se envergonha, nem se esconde por trás os montes. Até porque, se o Povo é sábio, diz, de forma bem clara, que para lá são eles que mandam.

É desta terra de contrastes – da frescura dos espumantes à estufagem dos Madeira, dos tintos, que nos dão corpo, à doçura dos Porto’s, que nos alimentam o espírito – que se constrói esta Alma Lusa, que só os nossos vinhos têm.

Temos esta capacidade, de fazer vinhos que nos trazem, de mão cheia, as gentes de cada Região, mas nos transportam para uma Alma una e única, de ser Português, feitos por homens, num mundo (dos vinhos) que sempre foi muito de homens mas, feitos, cada vez mais, por mais mulheres, que emprestando, a cada vinho que pensam, a cada vinho que fazem, a sua sensibilidade singular, pedem, para si, apenas o reconhecimento de serem tidas como iguais.

Reconheça-se!

Fonte: Liderança no Feminino

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